Antes de mais, quero dizer que por muitas vezes tentei escrever sobre esta segunda temporada de Rosa Esperança.
Nunca o fiz. Umas vezes por falta de tempo, outras porque me faltou a motivação e outras ainda, porque as palavras pareciam muito pequenas perante a grandeza dos sentimentos. Fui arrastando... e julgo que ou seria agora, ou não valeria mais a pena e RE merece todas as palavras que lhe dedicarmos.
Pois bem, o meu olhar será mais intimista, será sob uma perspectiva diferente: será sobre o que eu senti, vi e vivi ao longo deste tempo e uns quantos (muitos) espectáculos.
Como nasceu Rosa Esperança, já todas sabemos. Quem é o vasto grupo que faz acontecer RE, também já todas sabemos percebemos e sabemos reconhecer. Como acontece Rosa Esperança em cada fim de semana, em cada deslocação, em cada espectáculo, em cada viagem? Como acontece RE "depois" de Rosa Esperança?!...
É disto mesmo que me apetece falar.
Seria desonesta se dissesse que esta 2ª temporada teve o mesmo sabor da 1ª... não teve, para mim. O meu olhar foi-se transformando ao longo deste percurso, umas vezes para melhor outras vezes, infelizmente nem tanto. A vida faz-se de crescimentos e transformações... para mim RE não foi diferente.
A vontade, a entrega, a confiança, a emoção de estar aqui desde o inicio foram crescendo - como se fosse possível!
De todas as vezes que iniciava um espectáculo, a angústia voltava, e sempre que o terminava, perante os rostos da plateia, molhados de choro e de agradecimento a respiração falhava e eu própria continha as lágrimas (quando podia). Não há nada que se iguale a uma plateia que transpira emoção e se levanta aplaudindo o pouco que fizemos na representação e o muito que damos ao falar de Cancro da Mama, de Sobrevivência, Prevenção e Esperança. Não há nada que me satisfaça mais que segurar uma mão trémula que se estende num impulso de ajuda, ao encontro de uma outra, desconhecida. Mesmo que sem palavras, aquele toque diz um mundo de coisas quando acompanhado de um olhar profundo e sincero. E não sei se é tão intenso para a mão que aperto como o é para mim - quero acreditar que sim- porque o que me impulsiona é precisamente acreditar que a minha mão, o meu abraço e as minhas palavras fazem sentido. Não me importa saber se o fazem para duas, três, dez ou cem pessoas. Basta-me saber que quem a procura a encontra, de facto.
Para mim, isto é fazer acontecer Rosa esperança a quem nos procura numa sala de espectáculos.
Mas também há um RE que acontece fora dos palcos... quando se reúne um grupo de sensivelmente 35/40 pessoas horas antes de cada apresentação. E este grupo é a outra face bonita desta aventura, é a energia que preciso para, sempre que me despeço, tenha vontade de voltar no fim de semana seguinte. Há pessoas muito especiais, que me deixam saudades e me merecem muito carinho.
As viagens são marcadas pela descontracção e boa disposição. Nunca falta boa disposição e generosidade a estas pessoas. As relações foram-se estreitando, e é muito bom quando deixamos que pessoas assim entrem na nossa vida. Companheirismo, partilha e cumplicidade são palavras que as descrevem bem, em grupo.
Há as Cotas maravilhosas e os Emplastros insubstituiveis, há os Bem Dispostos incontroláveis e os Brincalhões doentios... há um grupo de diferenças e semelhanças.
Há o regresso, já com o cansaço e desgaste marcado no corpo, mas sempre com um sorriso estampado no rosto quando a conversa corre sobre o balanço do que se fez e já com a expectativa do que será a próxima actuação, de como será a cidade, a sala de espectáculos e o quanto estará cheia ou não, de saber quem nos convidou... porque a causa é comum, e sobre essa não há dúvidas.
Mas no regresso também já nos assalta o que deixámos para trás e vamos reencontrar: familia, amigos, empregos, filhos... há a vida que nos pertence e que por um fim de semana deixamos.
Eu não quero ver o RE como moeda de troca, ou pelo menos não quero perceber este projecto numa balança do que ganhei e perdi... porque se assim fosse, o que recebi foi incomparavelmente muito maior do que o que perdi ou adiei. Não há como comparar.
Para mim isto é Rosa Esperança... é o meu olhar Rosa, Esperança. É pelo menos o que consigo descrever.
E para terminar, não quero ser injusta não agradecendo a todas as Associações que nos convidaram a levar esta peça por Portugal, de norte a sul. A forma como tão bem nos receberam, todos sem excepção, e as palavras de incentivo que nos deram para continuar a nossa missão. E levámo-la a cidades muito bonitas.
Agradecer a todos quantos nos foram ver, que nos aplaudiram e nos têm acompanhado, de uma forma ou outra. Sem todos seria impossível.
Não esqueçam que iremos arrancar com uma 3ª fase. Por enquanto, o merecido descanso e a reorganização de ideias.
Porque o melhor... o melhor está, seguramente, para vir!!!
Bjinhos a todas